Você não mudou.
Você desapareceu.

Eu não dormi. Mas também não acordei. Apenas permaneci, no meio de mim.

Sabe aquela sensação de estar num corpo que você não reconhece mais? Como se alguém tivesse trocado você enquanto fazia café?

Não houve tempestade. Nem grito. Nenhum aviso colado na porta. Houve apenas o silêncio. E um barulho por dentro que eu não soube como calar.

A mulher que me olhava de volta no espelho não tinha meu cheiro, minha cor, meu riso. Ela só carregava minha rotina. E meu cansaço.

Por muito tempo, achei que estava vivendo. Mas estava apenas sobrevivendo dentro de um roteiro que não escolhi.

Fingi que ainda amava. Fingi que ainda acreditava. Fingi até que ainda era eu.

Até que um dia, a alma sentada no canto da sala, com os joelhos encolhidos, sussurrou: "Você ainda está aí?"

E eu precisei admitir: fui embora de mim mesma. Fazia tempo.